A capoeira é uma manifestação da cultura
brasileira que tem características muito peculiares: trata-se de um misto de
luta-jogo-dança praticada ao som de instrumentos musicais (berimbau, pandeiro e
atabaque), palmas e cânticos. Além de ser um excepcional sistema de auto-defesa
e de condicionamento físico, a capoeira se destaca dentre as modalidades
desportivas por ser a única originariamente brasileira e que se fundamenta nas
nossas tradições culturais. Por tudo isso a capoeira vem obtendo cada vez mais
espaço nas instituições educacionais como escolas de primeiro e segundo graus e
universidades e sendo cada vez mais reconhecida em todas as instâncias da
sociedade brasileira.
Há uma grande controvérsia em torno da
história da capoeira, sobretudo no que se refere ao período compreendido entre
o seu surgimento -provavelmente no século XVII- e o século XIX, quando aparecem
registros confiáveis, com descrições mais detalhadas desta manifestação.
Uma das discussões que mais envolveram
os estudiosos da arte-luta brasileira girou em torno da questão: a capoeira
surgiu na África ou no Brasil? Atualmente considera-se uma questão já
resolvida, pois a grande maioria dos autores que escrevem sobre a história da
capoeira concordam com a tese de que ela teria sido criada no Brasil pelos
negros africanos trazidos pelos portugueses a partir do início da colonização
para o trabalho escravo na lavoura, na pecuária, mineração e em atividades
urbanas.
Não pretendemos aprofundar aqui o debate
sobre o surgimento da capoeira, mas convém observar que a questão é realmente
complexa. Os que defendem que a capoeira surgiu no Brasil, apoiavam-se no
argumento de não existir atualmente (nem há registros históricos conhecidos)
qualquer forma de luta criada e desenvolvida pelos escravos nas outras
ex-colônias do continente americano, que também receberam grandes quantidades
de negros africanos vindos das mesmas regiões, em alguns casos, daqueles
trazidos para o Brasil. Na realidade, esse não é um argumento suficiente para
provar a origem brasileira da luta, pois várias manifestações culturais
bastante próximas da capoeira, reunindo características de luta e dança, já
foram identificadas em outros países da América Latina. A idéia de que a
capoeira seria uma luta africana, trazida pelos cativos, apoiava-se no fato de
que ainda hoje, no continente africano, existem danças rituais com
características de luta (denominadas, entre outras, Cujuinha, Uianga, Cuissamba
e Dança da Zebra).
Para alguns autores, a capoeira praticada em
terras brasileiras seria simplesmente uma variação dessas danças, que teria se
tornado extremamente útil em situações de luta corporal contra o branco
colonizador. Assim, de acordo com a organização que as comunidades negras
conseguiam constituir no Brasil nos primórdios da colonização (seja nos
quilombos, ou nas próprias senzalas, preparando os movimentos de rebeldia e as
fugas) seriam recuperados os elementos dessas danças-lutas ancestrais.
Na verdade, a controvérsia se justifica
pela complexidade da questão e pela dificuldade na obtenção de documentos que
relatem a vida dos escravos durante os primeiros séculos de escravidão no
Brasil. É sabido que em 15 de dezembro de 1890 o então Ministro das Finanças
Ruy Barbosa mandou incinerar, no âmbito do Ministério da Fazenda, os documentos
que se referiam à escravidão, alegando que se deveria apagar da memória
brasileira essa lamentável instituição. Os historiadores atribuem tal ordem a
uma estratégia que procurava evitar que os ex-proprietários de escravos buscassem
junto ao governo uma compensação dos prejuízos que tiveram com a abolição da
escravatura, em 1888. Provavelmente esses documentos nos trariam muitas
informações sobre a vida dos escravos, suas fugas, suas formas de resistência à
escravidão. Mas sua destruição não pode ser tomada, como se faz habitualmente
nos debates sobre a capoeira, como obstáculo intransponível à reconstituição da
história da resistência à escravidão. A historiografia sobre o tema tem nos
mostrado isso constantemente.
Muito embora seja suficientemente
esclarecido que a capoeira, como a conhecemos hoje, é uma luta surgida no
Brasil, é preciso considerá-la como parte da dinâmica constante da cultura
afro-brasileira. Assim, a capoeira surgiu de um conjunto de aspectos
pré-existentes nas culturas das comunidades africanas (rituais, danças, jogos,
cultura musical etc). O aparecimento da capoeira deve ser pensado, de uma certa
forma, como as próprias artes marciais tradicionais do Oriente, que são a
expressão da filosofia de seus povos criadores e que estão integradas às outras
instâncias da vida social, como a religião e o trabalho. Sabe-se, por exemplo,
que diversas armas utilizadas nessas artes marciais derivam de instrumentos de
trabalho agrícola, e algumas cerimônias ou simbologias se referem às tradições
religiosas dos orientais.
É assim que devemos compreender a
questão: a capoeira surgiu no Brasil como luta de resistência de uma comunidade
que trazia uma imensa bagagem cultural de sua terra de origem e que precisou
desenvolver um conjunto de técnicas de ataque e defesa em virtude da situação
de opressão em que vivia durante a escravidão. Aliás, devemos considerar que a
capoeira faz parte de todo um processo de resistência do negros no Brasil, que
também se expressou na religião, na arte, na culinária etc. Em outras palavras:
era necessário aos negros não só permanecerem vivos e lutarem pela sua
liberdade, era preciso também preservar aspectos de sua cultura ancestral.
Dessa forma, o surgimento da capoeira se
confunde com a história da resistência dos negros no Brasil. Eis porque a
maioria dos autores que escreveram sobre a questão associam o aparecimento da
capoeira ao surgimento dos primeiros quilombos no Brasil. Alguns chegam a se
referir especificamente ao Quilombo dos Palmares (que foi o que reuniu um
número maior de pessoas, cerca de 25 mil, e foi destruído em 1694) como sendo o
berço da capoeira. Já em 1928, Annibal Burlamaqui, no livro Gymnastica Nacional
(Capoeiragem) Methodizada e Regrada, destaca a superioridade do quilombola no
combate com os capitães do mato, devido a um "jogo estranho de braços,
pernas, cabeça e tronco" utilizado pelos fugitivos.
Desta primeira publicação até hoje,
muitos têm repetido a afirmação de que a capoeira surgiu nos quilombos sem, no
entanto, apresentar provas mais concretas. Do ponto de vista científico, apenas
se pode sustentar essa idéia como uma hipótese a ser comprovada por estudos
futuros. Porém, é verdade inquestionável que os quilombos representavam uma
atmosfera de liberdade, de recuperação dos rituais e danças africanas e de
convívio social que, somadas à situação de opressão podem ter dado origem à
capoeira.
Os estudos históricos sobre o Quilombo
dos Palmares desenvolvidos por pesquisadores renomados como Édison Carneiro,
Clóvis Moura, Décio Freitas e Joel Rufino dos Santos, embora não se refiram
especificamente à capoeira, descrevem detalhadamente (e sobre isso há vasta
documentação) as violentas guerras travadas ao longo de quase cem anos na Serra
da Barriga (que à época se localizava em território da capitania de Pernambuco,
atual estado de Alagoas) entre os fugitivos e as tropas enviadas para a
destruição do quilombo. Dificilmente terá existido, em toda a história do
Brasil, um ambiente mais propício para o surgimento de uma modalidade de luta
como a capoeira.
Um quadro de Johan Moritz Rugendas
intitulado "Jogar Capoeira ou Danse de la Guerre", de 1835, é
considerado o primeiro registro preciso sobre a capoeira. Neste quadro dois
negros se situam em posição de luta enquanto um outro, sentado, toca um
atabaque que segura com as pernas. Outros negros, homens e mulheres, assistem à
luta (ou jogo) que se realiza.
Ao longo do século XIX a capoeira
torna-se uma nítida expressão da situação vivida pelo negro no Brasil. As
mudanças ocorridas na economia e na política do Império vinham gerando um
intenso processo de desescravização. Lembremo-nos de que a Lei Eusébio de
Queirós, de 1850, já havia proibido o tráfico negreiro para o Brasil. A lógica
do sistema econômico mundial e brasileiro impunha a substituição do negro pelo
trabalhador imigrante, e isso gerava uma inevitável situação de marginalidade.
A capoeira floresceu dessa forma, e são inúmeros os relatos de jornais do
século passado que narram as aventuras dos capoeiras (esse nome, até meados
deste século, era utilizado para designar o lutador; a luta era denominada
capoeiragem).
Naquela época, a capoeira reunia não só
ex-escravos e seus filhos, mas também figuras importantes da sociedade. Aos
poucos a capoeira foi se envolvendo com a vida política e chegou a ser
amplamente utilizada como arma na luta entre as facções que se enfrentavam nos
tempos do Império e nos primórdios da República, sobretudo nas cidades do Rio
de Janeiro, Salvador, Recife e São Paulo. Os capoeiras eram contratados para
interferir em comícios, tumultuar eleições e fazer a segurança de figurões da
política. O sociólogo José Murilo de Carvalho, analisando as ocorrências
policiais do rio de Janeiro do século passado, calcula em cerca de vinte mil o
número de capoeiras cariocas existentes às vésperas da Proclamação da República
(1889), o que nos dá uma idéia da importância desse segmento na sociedade da
época.
Muito tempo se passou até que a capoeira
superasse esse estigma de mazela social. Pode-se afirmar que a história da
capoeira nos últimos cem anos tem sido a trajetória de sua inserção e
institucionalização na sociedade brasileira. Aos poucos foi sendo reconhecida
como expressão do folclore nacional, como técnica eficiente de luta e, mais
recentemente, como instrumento educativo importantíssimo para a consciência de
nossa cultura.
Esse processo de desenvolvimento da
capoeira teve como figura chave o capoeirista baiano conhecido como Mestre
Bimba, que merecerá nossa atenção especial mais adiante. Mestre Bimba criou por
volta de 1930 a Capoeira Regional, uma variação da capoeira tradicional
(conhecida como Capoeira Angola) que incluía uma série de inovações e métodos
de ensino.
O desenvolvimento técnico da capoeira
nas últimas décadas foi imenso, e não pára de ocorrer. O contato com outras
modalidades de luta e com os métodos científicos de treinamento desportivo têm
exigido dos capoeiristas um intenso esforço de atualização e sistematização de
seus conhecimentos.
A história
da Capoeira
O Brasil a partir do século XVI foi
palco de uma das maiores violências contra um povo. Mais de dois milhões de
negros foram trazidos da África, pelos colonizadores portugueses, para se
tornarem escravos nas lavouras da cana-de-açúcar. Tribos inteiras foram
subjugadas e obrigadas a cruzar o oceano como animais em grandes galeotas
chamadas de navios negreiros. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro foram os
portos finais da maior parte desse tráfico.
Ao contrário do que muitos pensam, os
negros não aceitaram pacificamente o cativeiro; a história brasileira está
cheia de episódios onde os escravos se rebelaram contra a humilhante situação
em que se encontravam. Uma das formas dessa resistência foi o quilombo;
comunidades organizadas pelos negros fugitivos, em locais de difícil acesso.
Geralmente em pontos altos das matas. O maior desses quilombos estabeleceu-se
em Pernambuco no século XVII, numa região conhecida como Palmares. Uma espécie
de Estado africano foi formado. Distribuído em pequenas povoações chamadas
mocambos e com uma hierarquia onde no ápice encontrava-se o rei Ganga-Zumbi,
Palmares pode ter sido o berço das primeiras manifestações da Capoeira.
Desenvolvida para ser uma defesa, a
Capoeira foi sendo ensinada aos negros ainda cativos, por aqueles que eram
capturados e voltavam aos engenhos. Para não levantar suspeitas, os movimentos
da luta foram sendo adaptados às cantorias e músicas africanas para que
parecessem uma dança. Assim, como no Candomblé, cercada de segredos, a Capoeira
pode se desenvolver como forma de resistência.
Do campo para a cidade a Capoeira ganhou
a malícia dos escravos de 'ganho' e dos frequentadores da zona portuária. Na
cidade de Salvador, capoeiristas organizados em bandos provocavam arruaças nas
festas populares e reforçavam o caráter marginal da luta. Durante décadas a
Capoeira foi proibida no Brasil. A liberação da sua prática deu-se apenas na
década de 30, quando uma variação da Capoeira (a chamada "regional")
foi apresentada ao então presidente, Getúlio Vargas.
Hoje em dia, a Capoeira esta dividida
nessas duas correntes, angola (a mais antiga) e regional. Os grandes gurus
dessas correntes são, respectivamente, Mestre Pastinha e Mestre Bimba.
Golpes
É claro que entre os praticantes
sérios, em seus treinos, os golpes são apenas simulados e a Capoeira torna-se
um exercício físico e mental. A violência dos seus golpes, no entanto, não
deixa espaço para meio termo; ou joga-se Capoeira 'para valer', com as suas
sérias consequências ou apenas simula-se um jogo. A possibilidade de
enquadrá-la em regras esportivas é inexistente; quem assim o faz está sendo
leviano ou não conhece de fato a Capoeira.
Os Golpes
A Capoeira Angola tem um número
relativamente pequeno de golpes que podem, no entanto, atingir uma harmoniosa
complexidade através de suas variações. Assim como a música tem apenas sete
notas .
Os seus principais golpes são:
Cabeçada, Rasteira, Rabo de Arraia, Chapa de Frente, Chapa de Costas, Meia Lua
e Cutilada de Mão.
A Música
A Capoeira é a única modalidade de
luta marcial que se faz acompanhada por instrumentos musicais. Isso deve-se
basicamente às suas origens entre os escravos, que dessa forma disfarçavam a
prática da luta numa espécie de dança, enganando os senhores de engenho e os
capitães-do-mato. No início esse acompanhamento era feito apenas com palmas e
toques de tambores. Posteriormente foi introduzido o Berimbau, instrumento
composto de uma haste tensionada por um arame, tendo por caixa de ressonância
uma cabaça cortada. O som é obtido percutindo-se uma haste no arame; pode-se
variar o som abafando-se o som da cabaça e (ou) encostando uma moeda de cobre
no arame; complementa o instrumento o caxixi, uma cestinha de vime com sementes
secas no seu interior.
O Berimbau, um instrumento usado
inicialmente por vendedores ambulantes para atrair fregueses, tornou-se
instrumento símbolo da Capoeira, conduzindo o jogo com o seu timbre peculiar.
Os ritmos são em compasso binário e os andamentos - lento, moderado e rápido
são indicados pelos toques do Berimbau. Entre os mais conhecidos estão o São
Bento Grande, o São Bento Pequeno (mais rápido), Angola, Santa Maria, o toque
de Cavalaria (que servia para avisar a chegada da polícia), o Amazonas e o
Iuna.
Numa roda de angoleiros o conjunto
rítmico completo é composto por: três berimbaus (um grave - Gunga; um médio e
um agudo - Viola); dois pandeiros; um reco-reco; um agogô e um atabaque. A
parte musical tem ainda ladainhas que são cantadas e repetidas em coro por
todos na roda. Um bom capoeirista tem obrigação de saber tocar e cantar os
temas da Capoeira.
O Jogo
"Capoeira é um diálogo de corpos,
eu venço quando o meu parceiro não tem mais respostas para as minhas
perguntas" - Mestre Moraes. O jogo da Capoeira na forma amistosa, ou seja,
na roda é verdadeiramente um diálogo de corpos. Dois capoeiristas se benzem ao
pé do Berimbau e iniciam um lento balé de perguntas e respostas corporais, até
que um terceiro 'compre o jogo' e assim desenvolve-se sucessivamente até que
todos entrem na roda.
A Malícia
Elemento básico da Capoeira Angola, a
malícia ou mandinga a torna ainda mais perigosa. Essa malandragem que faz que
vai e não vai, retira-se e volta rapidamente; essa ginga de corpo que engana o
adversário, faz o diferencial da Capoeira em relação às outras artes marciais.
Essa é uma característica que não se aprende apenas treinando.
Berimbau
O berimbau é que cria o clima e dita o jogo que vai acontecer na roda. Dizem os velhos mestres: "O berimbau ensina"
O berimbau é que cria o clima e dita o jogo que vai acontecer na roda. Dizem os velhos mestres: "O berimbau ensina"
Os berimbaus criam uma
corrente e uma vibração que, junto com as palmas, os cantos, o pandeiro e o
atabaque, influenciam os jogadores.
Existem três tipos de
berimbau:
Gunga, de som mais grosso,
faz o papel de contrabaixo: marca o ritmo;
Berimbau médio ou de centro,
ou simplesmente "berimbau", dobra em cima do ritmo básico do gunga: é
como se fosse o violão, ou guitarra de ritmo;
Viola ou violinha, é o
berimbau de som mais agudo; faz os "contratoques" e improvisos:
equivaleria ao violão ou guitarra-solo.
O berimbau é feito
com um arco de madeira (chamada biriba), e com um fio de arame preso nas duas
extremidades desse arco. Uma cabaça com uma abertura em um dos lados é presa à
parte inferior externa do arco, aproximadamente de 20 a 25 centímetros da ponta
do instrumento, com um pedaço de corda. Essa corda é também amarrada em torno
do fio de arame, e quando pressionada ela altera o som do mesmo. Os tons do
berimbau são modificados pela aproximação e afastamento da cabaça em relação ao
corpo do músico, assim abrindo ou fechando o buraco.
Os outros 3
componentes: o dobrão, que é segurada contra o arame, uma pequena vareta para
tocar o fio (baqueta), e o caxixi.
Também é conhecido
por vários outros nomes como urucungo, orucungo, oricungo, uricungo, rucungo,
berimbau de barriga, gobo, marimbau, bucumbumba, gunga, macungo, matungo e
rucumbo.
Em Cuba é chamado de
sambi, pandigurao, gorokikamo e burumbumba.
Caxixi
São cestos
entrelaçados enchidos com pequenas contas, conchas, pedras ou feijões.
Por serem feitos à mão eles existem em vários formatos e tamanhos, usado como chocalho pelo tocador de berimbau, o qual segura a peça com a mão direita, juntamente com a Baqueta, executando o toque e marcando o ritmo.
Por serem feitos à mão eles existem em vários formatos e tamanhos, usado como chocalho pelo tocador de berimbau, o qual segura a peça com a mão direita, juntamente com a Baqueta, executando o toque e marcando o ritmo.
Baqueta
É uma vareta de
madeira de, aproximadamente 30 a 40 centímetros, tendo uma extremidade mais
grossa que a outra. A vareta é normalmente feita de biriba.
Dobrão
Usado para auxiliar
as variações de toques do berimbau, geralmente é uma pedra, mas também
ultilizam moeda.
O
Berimbau de Boca
Também conhecido como
"marimbau" ou "marimba", é um pequeno instrumento de metal
arqueado em forma de diapasão sem cabo, que os escravos usavam preso aos
dentes, com os quais faziam soar as pontas do metal. O formato de diapasão sem
cabo é semelhante a u m grampo de cabelo, porém um pouco maior. A caixa de
ressonância é a própria boca do tocador.Atualmente, o berimbau de boca não é
mais usado, apesar de alguns mestres antigos, especialmente de Capoeira Angola
ainda saberem tocá-lo. É uma peça raríssima, encontrada mais possivelmente em
museus.
Pandeiro
Instrumento de
percussão, de origem indiana que requer considerável técnica para ser
tocado.Pandeiros podem ter peles de couro ou de plástico. Eles existem em
diferentes tamanhos, com os de 10 e 12 polegadas sendo os mais comuns. As peles
de couro produzem uma qualidade de som melhor, mas apresentam problemas de
afinação causados por alterações climáticas, logo as peles de plástico são mais
encontradas. O pandeiro é segurado por uma das mãos, enquanto a ponta dos
dedos, o polegar e a base da outra mão são usados para tocar a pele do lado de
cima. Os tons abertos e fechados podem ser obtidos através do uso do polegar ou
do dedo médio da mão que segura o instrumento. O polegar pode abafar a pele do
lado de cima, o dedo médio pode abafar o lado de baixo.
Foi introduzido no
Brasil pelos portugueses, que o usavam para acompanhar as procissões religiosas
que faziam. É o som cadenciado do pandeiro que acompa nha o som do caxixi do
berimbau, dando "molejo" ao som da roda. Ao tocador de pandeiro é
permitido executar floreios e viradas para enfeitar a música.
Atabaque
Instrumento de origem
árabe, que foi introduzido na África por mercadores que entravam no continente
através dos países do norte, como o Egito. É geralmente feito de madeira de lei
como o jacarandá, cedro ou mogno cortada em ripas largas e presas umas às
outrascom arcos de ferro de diferentes diâmetros que, de baixo para cima dão ao
instrumento uma forma cônico-cilíndrica, na parte superior, a mais larga, são
colocadas "travas" que prendem um pedaço de couro de boi bem curtido
e muito bem esticado. É o atabaque que marca o ritmo das batidas do jogo.
Juntamente com o pandeiro é ele que acompanha o solo do berimbau.
Reco-Reco
Instrumento de
percussão composto, são feitos de caixas de metal com sulcos cortados na parte
de cima ou tubos de metal com molas estendidas ao longo de sua extensão.
São tocados através do deslizamento de uma baqueta de metal ou madeira contra as molas ou sulcos. É usado em rodas de capoeira Angola na Bahia, em outros estados seu uso é eventual.
São tocados através do deslizamento de uma baqueta de metal ou madeira contra as molas ou sulcos. É usado em rodas de capoeira Angola na Bahia, em outros estados seu uso é eventual.
Agogô
Instrumento de origem
africana composto de um pequeno arco, uma alça de metal com um cone metálico em
cada uma das pontas, estes cones são de tamanhos diferentes, portanto
produzindo sons diferentes que também são produzidos com o auxílio de um
ferrinho que é batido nos cones. Também faz parte da "BATERIA" da
roda de capoeira Angola na Bahia.
“C A P O E I R A R
E G I O N A L "
Mestre Bimba (Manuel dos Reis
Machado) filho de Luiz Cândido Machado e Maria Martinha do Bonfim, nasceu no
bairro de Engenho Velho, freguesia de brotas, Salvador - Bahia em 23 de
novembro de 1900. Recebeu esse apelido devido a uma aposta que sua mãe fizera
com a parteira que o "aparou". Ao contrário do que dona Martinha
achava, a parteira disse que se nascesse menino, receberia o apelido de
"Bimba" pôr se tratar, na Bahia, de um nome popular do órgão sexual
masculino. Começou a praticar capoeira aos 12 anos de idade na estrada das
Boiadas, hoje o Bairro Negro da Liberdade, com o africano Bentinho, capitão da
navegação Baiana. Foi estivador durante 14 anos e começou a ensinar capoeira
aos 18 anos de idade no Bairro onde nasceu no "Clube União em
Apuros". Até 1918 não existia esquinas, nas portas dos armazéns e até no
meio do mato. Era eficaz e muito folclorizada a capoeira da época, devido ao
fato de os movimentos que eram extremamente disfarçados, mestre Bimba resolveu
desenvolver um estilo de capoeira mais eficiente, inspirando-se no antigo
"Batuque" (luta na qual seu pai era um grande lutador, considerado
até um campeão) e acrescentando sua própria criatividade, introduziu movimentos
que ele julgava necessário para que a capoeira fosse mais eficaz. Então em
1928, mestre Bimba criou o que ele denominou Capoeira Regional Baiana por ser
esta praticada única e exclusivamente em Salvador. A partir da década de 30,
com a implantação do Estado Novo, o Brasil atravessou uma fase de grandes
transformações políticas e culturais, onde os ideais nacionalistas e de
modernização ficaram em evidência. Nesse contexto, surge a oportunidade de
Mestre Bimba fazer com que o seu novo estilo de capoeira alcançasse as classes
sociais mais privilegiadas. Em 1936 fez a 1ª apresentação do seu trabalho e no
ano seguinte foi convidado pelo governador da Bahia, o General Juracy
Magalhães, para fazer uma apresentação no palácio do governador onde estavam
presentes autoridades e convidados. Dessa forma a capoeira foi reconhecida como
"Esporte Nacional" e mestre Bimba foi reconhecido pela Sec. Ed. Ass.
Pública ao estado da Bahia como Professor de Educação Física e sua academia foi
a 1ª no Brasil reconhecida por Lei. O que faz com que Mestre Bimba se
destacasse dos demais capoeiristas de sua época, é que ele foi o 1º a
desenvolver um sistema de ensino e a ensinar em recinto fechado. Além desse
sistema, ele elaborou técnicas de defesa Pessoal até mesmo contra armas. Mestre
Bimba preocupava-se demais com a imagem da capoeira, não permitindo treinar em
sua academia aqueles que não trabalhavam nem estudavam. Em 1973, Mestre Bimba,
por motivos financeiros, deixou a Bahia, sob acusação de que os "Poderes
Públicos" jamais haviam o ajudado. Faleceu em Fevereiro de 1974 em
Goiânia, vítima de um derrame cerebral. Mestre Bimba foi embora, mas seus
ensinamentos e seus métodos ainda inspiram e influenciam os novos métodos de
hoje em dia.
"E X A M E D E A D M I S S Ã O"
Dizia-se que em outros tempos, Mestre
Bimba aplicava uma "Gravata" no pescoço do indivíduo que quisesse
treinar e dizia "Aguenta ai sem chiar", se aguentasse o tempo que ele
mesmo determinava estaria matriculado. Mestre Bimba justificava esse critério
dizendo que só queria macho em sua academia. Mais tarde mudou os critérios,
submetendo o Candidato a fazer alguns movimentos para que ele pudesse avaliar
se o pretendente tinha condição ou não para praticar a capoeira regional. Sendo
a próxima fase aprender a "Sequência de Ensino".
"O A P R E N D I Z A D
O"
O aluno nessa faze aprendia o que se
chama "Sequência de Ensino" que eram as oito sequências de movimentos
de ataque, esquivas e contra ataque destinadas somente aos iniciantes,
simulando as situações mais comuns que o aluno enfrentaria durante o jogo de
capoeira. Esse foi o 1º método de ensino criado para ensinar alguém a jogar a
capoeira e o calouro treinava essas sequências em duplas sem o acompanhamento
dos instrumentos. Quando estas estivessem decoradas o Mestre dizia: "Amanhã
você vai entrar no aço, no aço do Berimbau". Também fazia parte do
aprendizado os "movimentos de projeção" que ensinava o iniciante cair
de forma correta, sempre de pé e uma sequência com esses movimentos denominada
"cintura desprezada". Por fim, o aluno aprendia os "golpes
ligados" que eram as situações de agarramento que aconteciam em brigas de
rua. Era comum naquele tempo dizerem que o capoeirista quando agarrado, não
tinha como reagir. Então Mestre Bimba, com sua criatividade ensinava seus
alunos quais eram as melhores saídas. Todos esses ensinamentos faziam com que o
método de mestre Bimba fosse incompáravel e esse treinamento durava cerca de 3
meses, só então é que o aluno seria batizado.
"O B A T I Z A D O
"
O batizado era quando o aluno jogava
pela 1ª vez na roda com o acompanhamento dos instrumentos que era formado por 1
berimbau e 2 pandeiros. O mestre escolhia o formado que jogaria com o calouro e
então toca "São Bento Grande", toque que caracterizava a capoeira
regional, para isso o calouro era colocado no centro da roda para que o formado
ou o próprio mestre desse um apelido a ele. Escolhido o "nome de
guerra" todos aplaudiam e então o mestre mandava o calouro pedir a
"Benção" do padrinho, e ao estender a mão para o formado que o batizou,
receberia uma Benção (golpe) que o jogava no chão. Era necessários pelo menos,
6 meses de treino para se formar na Capoeira Regional. O exame era realizado em
4 domingos seguidos, no Nordeste de Amaralina, academia do mestre, os alunos a
serem examinados eram escolhidos por ele. Durante 4 dias os alunos eram
submetidos a algumas situações onde teriam que mostrar os valores adquiridos
durante a fase de aprendizado, como por exemplo: força, reflexo, flexibilidade
e etc. No último domingo é que o mestre dizia quem havia sido aprovado e então
ensinava novos golpes e também marcava o dia da formatura.
"A F O R M A T U R A
"
A Cerimônia iniciava com uma roda de
formados antigos para que as madrinhas e os convidados pudessem ver o que era a
Capoeira Regional. Mestre Bimba ficava ao lado do som, que era formado por 1
Berimbau e 2 pandeiros, comandando a roda e cantando as músicas características
da Regional. Terminada a roda, o mestre chamava o orador que geralmente era um
formado mais antigo para falar um breve histórico da Capoeira Regional e do
mestre. Após o histórico, o mestre entregava as medalhas aos paraninfos e os
lenços azuis (Graduação dos Formados) as madrinhas. O paraninfos colocava a
medalha ao lado esquerdo do peito do Formado e as madrinhas colocavam os lenços
nos pescoços dos seus respectivos afilhados. A partir dai os formados
demonstravam alguns movimentos a pedido do mestre para mostrar a sua
competência, incluindo os movimentos de "cintura desprezada",
"jogo de floreto" e o "escrete" que era o jogo combinado
com o uso dos Balões. Para Terminar, chegava a hora do "Tira-medalha"
onde o recém formado jogava com um formado antigo que tentava tirar a sua
medalha com qualquer golpe aplicado com o pé. Só então depois de passar por isso
tudo é que o aluno poderia se considerar aluno formado de mestre Bimba, tendo
direito até a jogar na roda quando o mestre estivesse tocando Iuna que era o
toque criado por ele para esse fim. A partir dai só restava o curso de
especialização.
"O C U R S O D E E S
P E C I A L I Z A Ç Ã O "
Tinha duração de 3 meses, sendo 2 na
academia e 1 nas matas da Chapada do Rio Vermelho. Tratava-se de um treinamento
de guerrilha, onde aconteciam as emboscadas, armadilhas e etc., que consistia
em submeter o formado a situações das mais difíceis, desde defender-se de 3 ou
mais Capoeiristas, até defender-se de armas. Terminando o curso, o mestre fazia
a mesma festa para os novos especializados, e estes recebiam o lenço vermelho
que representava a nova graduação. O aluno que se formava ou se especializava,
tinha a obrigação de pendurar um quadro com a foto do mestre, do padrinho, do
orador, e a própria foto.
"Minha Mãe sempre dizia"
Minha mãe sempre dizia
Minha mãe sempre dizia
Filho meu tome juízo
Mulher é muito bom
Mulher é muito bom
Mas também da prejuízo
Eu não vou na sua casa
que é pra você não ir na minha
você tem a boca grande
vai comer minha galinha
Lá na terra onde eu nasci
de manhã tem oração
ajoelhado na igreja (colega velho)
na cintura seu facão, camará
Iê viva meu Deus...
"Eu já Vivo enjoado"
Eu já vivo enjoado
De viver aqui na Terra
O mamãe eu vou pra Lua
Falei com minha mulher
Ela então me respondeu
Nós vamos se Deus quiser
vamos fazer um ranchinho
Amanhã as sete horas
Nós vamos tomar café
E eu nunca acreditei
Não posso me conformar
Vem a Lua vem a Terra
Vem a Terra e a Lua
Tudo isto é conversa
Vão comer sem trabalhar
Ô senhor amigo meu
Veja bem o meu cantar
Quem é dono não ciuma
Quem não é quer ciumá
Iêê viva...
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