- A -
Abadá - s. m. 1. Camisolão folgado e
comprido usado pelos nagôs, semelhante ao traje nacional da Nigéria (Aurélio).
Waldeloir Rego diz: "No Cais do Porto sempre estiveram os mais famosos
capoeiras, mas a roupa usual, na sua atividade de trabalho, era calça comum,
com bainha arregaçada, pés descalços e camisa tipo abadá, feita de saco
de açúcar ou farinha do reino, e nas horas de folga do trabalho, assim se
divertiam jogando sua capoeira." 2. Associação Brasileira de Apoio
e Desenvolvimento da Arte - Capoeira, a Abadá-Capoeira, criada em 1988 por
mestre Camisa, irmão mais novo do mestre Camisa Roxa (um dos bambas de mestre
Bimba). Durante 15 anos, mestre Camisa pertenceu ao grupo Senzala de Capoeira,
para depois sair e fundar a Abadá-Capoeira.
Abalá - v. Corruptela de abalar (v.) Origem
controvertida. José Leite de Vasconcelos ("Etimologias Portuguêsas",
in Revista Lusitana, v.II., p.267), em parecer aceito por José Pedro
Machado (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa), propõe o latim
hipotético "advalare" (ad vallen), na idéia de "ir para
baixo", e depois, por generalização do significado, "pôr-se em
movimento", etc.
Abará - [Do ioruba] s. m. Pequeno bolo de feijão,
ralado sem a casca, condimentado e cozinhado em banho-maria envolvido em folhas
de bananeira.
ABCA - Sigla da Associação Brasileira de Capoeira
Angola, a mais representativa entidade de Capoeira Angola da Bahia, que
teve efetivada a sua criação por influência de intelectuais e capoeiristas.
Funciona hoje no casarão amarelo da Rua Gregório de Mattos, no Centro Histórico
de Salvador/BA. Teve como primeiro presidente Mestre João Pequeno de Pastinha,
e da primeira diretoria faziam parte também os mestres Moraes, Cobrinha Mansa,
Jogo de Dentro e Barba Branca....
Afoxé - s. m. Procissão ritual de um candomblé, que
durante o Carnaval vai se misturar com a festa popular.
Agogô - s. m. instrumento de música religiosa, composto de dois
sininhos metálicos desiguais, que se bate com uma varinha igualmente de metal.
"Alfinete" - (gíria antiga, transcrita em 1886
por Plácido de Abreu) s. m. faca, estoque.
"Alto da sinagoga" - (gíria antiga, transcrita em 1886
por Plácido de Abreu) s. m. rosto, cabeça.
Angola - s. f. 1. Nome de um país africano. José Matias
Salgado diz que o nome primitivo era Ndoango, que os portugueses fizeram
Dongo ou Ndongo como registra Quintão, traduzido por canoa
grande. Na língua bunda esta palavra dongo significa um tipo de
embarcação, a canoa, toda construída de um só pau; sendo muito
semelhante à figura do reino de Angola, deram-lhe os antigos o nome de Dongo,
que parece bem apropriado. O nome atual de Angola foi dado pelos portugueses,
pelo fato de os reis ou sobas da região serem chamados Ngola, daí a
origem do topônimo Angola. 2. Designa a capoeira chamada Angola,
em oposição àquela chamada Regional. 3. Designa um dos toques de
berimbau para o jogo de capoeira.
Angolêro - adj. m. Corruptela de angoleiro, derivado de
Angola. Designa o jogador da capoeira chamada Angola.
Anum - s. m. Pássaro preto do gênero Crotophaga, Linneu.
É um pássaro popularíssimo no nordeste do Brasil, que a imaginação popular
associa ao negro, de maneira jocosa. Assim, quando um negro tem os lábios muito
grossos, diz-se que tem bico de anum. O termo vem do tupi anu,
vulto preto, indivíduo negro.
Apulcro de Castro - Além das maltas, há indícios de
outras formas coletivas de organização dos capoeiras, nos instantes finais da
escravidão no país. Observa-se, por exemplo, nítida aproximação entre
capoeiristas e abolicionistas no depoimento do jornalista Carl Von Koseritz (Imagens
do Brasil, publicado na Alemanha em 1885) ao comentar o linchamento do
negro Apulcro de Castro, proprietário do pasquim de escândalos Corsário:
"[alguns dias depois do linchamento] ao cair
do crepúsculo, grandes quantidades de capoeiras (negros escravos amotinados) e
semelhantes 'indivíduos catilinários' se reuniram na praça de São Francisco e
começaram, ali e na rua do Ouvidor, a apagar os bicos de gás, e, logicamente, a
destruir os lampiões, enquanto gritavam alto e bom som "Viva a
Revolução" (...) o Rio tem nos seus capoeiras um mau exemplo e deles
se aproveita a propaganda revolucionária dos abolicionistas, sublevando os
homens de cor pela morte do negro Apulcro (...)."
Aquinderreis - interj. Corruptela de aqui d'el-Rei. É uma
oração elíptica, onde falta o verbo acudam, que formaria acudam aqui
d'el-Rei. Era a maneira de se pedir socorro antigamente, por se entender
el-Rei o único capaz de socorrer e dar proteção armada a alguém.
Armada - s. f. Golpe contundente do jogo de Capoeira. Um dos
movimentos giratórios básicos do jogo, no qual o capoeirista gira sobre seu
eixo, com uma das pernas estendidas horizontalmente, visando atingir o
adversário com o lado externo do pé, nas costelas ou na cabeça.
Arpão de cabeça - s. m. É uma cabeçada aplicada no peito
ou no abdome do adversário. Deve-se tomar o cuidado de entrar com as mãos
cruzadas pouco abaixo da cabeça, para anular a possível joelhada no rosto.
Arrastão - s. m. Quando acossado frontalmente, o capoeirista projeta-se
para frente e para baixo, buscando agarrar as pernas do adversário na altura
dos calcanhares e, num movimento brusco, puxá-las para cima, enquanto, com a
cabeça na altura do abdome do oponente, empurra-o para trás, derrubando-o. É
muito perigoso aplicá-lo, porque, se não for bastante rápido, o capoeirista
expõe-se a receber uma joelhada no rosto.
"Arriar" - (gíria antiga, transcrita em 1886
por Plácido de Abreu) v. deixar de jogar capoeira.
Aruandê - s. m. Trata-se do vocábulo Luanda, acompanhado de
um a protético, seguido da troca do l pelo r na referida
palavra e um ê exclamativo. Daí a composição a+Luanda+ê.
Asfixiante - s. m. Soco, murro direto aplicado na região inferior do
rosto do oponente. Segundo Mestre Bola Sete (A Capoeira Angola na Bahia,
Pallas, Rio de Janeiro, 1997), é golpe introduzido por Mestre Bimba, e que,
como é o caso da cintura desprezada, dos balões e das gravatas, fazia parte das
seqüências criadas pelo mestre, mas só era aplicado nos treinamentos realizados
no C.C.F.R. e pelos demais praticantes da capoeira regional entre si, em suas
respectivas Academias e jamais utilizados no jogo contra capoeiristas de outras
escolas, que não utilizassem o método de Bimba.
Aú - s. m. Movimento básico do jogo de Capoeira, utilizado
como fuga e deslocamento. Projetando-se lateralmente, o capoeirista leva as
mãos ao chão (uma, depois a outra) apoiando-se nelas enquanto eleva as pernas,
como se "plantasse uma bananeira", completando o giro e voltando à
posição inicial, de pé.
Aviso - Segundo Waldeloir Rego, Mestre Canjiquinha
(Washington Bruno da Silva) usava um toque chamado de "Aviso",
que seu mestre Aberrê dizia ser tocado por um observador, um tocador que ficava
num oiteiro, vigiando a presença do senhor de engenho, capitão do mato ou a
polícia. Tão logo era sentida a presença de um deles, os capoeiristas eram
avisados por meio desse toque. Em nossos dias, o comum a todos os capoeiras é o
toque chamado "Cavalaria", usado para denunciar a presença da
polícia montada, do conhecido Esquadrão de Cavalaria, cuja grande
atuação na Bahia ocorreu no tempo do chefe de polícia chamado Pedrito (Pedro de
Azevedo Gordilho), que perseguia candomblés e capoeiristas, passando para o
folclore, através da imaginação popular, em cantigas como:
Toca o pandeiro
Sacuda o caxixi
Anda depressa
Qui Pedrito evém aí.
Axé - s. m. 1. Cada um dos objetos sagrados do
orixá - pedras, ferros, recipientes, etc. - que ficam no peji das casas de
candomblé. 2. Alicerce mágico da casa do candomblé. 3. Axé designa
em nagô a força invisível, a força mágico-sagrada de toda divindade, de todo
ser animado, de todas as coisas. Corresponde, grosso modo, à noção tão
cara aos antropólogos, de mana. É a força sagrada, divina, que todavia
não pode existir fora dos objetos concretos em que se encontra, de tal modo que
a erva que cura é axé, e que o alimento dos sacrifícios é também axé.
- B -
Babá - s. m. Termo ioruba, significa pai. Pai ou
ancestral, no culto ioruba. Pai-de-santo.
Bahia - s. f. Nome com que se designa um acidente geográfico e um
Estado da federação do Brasil. O acidente geográfico é a Bahia de Todos os
Santos, que recebeu esse nome de seu descobridor, o Capitão-mor Cristóvão
Jacques, que, encontrando-se diante de uma larga e ampla enseada, denominou-a baía.
Como a descoberta foi no dia 1o. de novembro de 1526, dia em que a
Igreja festeja todos os santos, então o acidente passou a se chamar Bahia
de Todos os Santos, estendendo-se a denominação ao Estado da federação.
"Baiana" - (gíria antiga, transcrita em 1886
por Plácido de Abreu) s. f. Joelhada que se dá depois de se haver
saracoteado para tapear o inimigo.
Bamba - [Do quimbundo mbamba.] s. m. 1.
Valentão. O exímio capoeirista. 2. Pessoa que é autoridade em
determinado assunto.
Bananeira - s. f. Movimento pelo qual o capoeirista se movimenta de
cabeça para baixo, equilibrando-se sobre as mãos.
Banda - s. f. Golpe desequilibrante, proveniente do batuque
(ver o verbete abaixo), introduzido na Capoeira por Mestre Bimba. Há vários
tipos de bandas: de frente, de costas, cruzada, traçada.
"Banho de fumaça" - (gíria antiga, transcrita em 1886
por Plácido de Abreu) s. m. Tombo.
Banto - [Do cafre ba-ntu, homem, pessoa] s. m. Indivíduo
dos bantos, povo negro da África Central ao qual pertenciam, entre outros, os
negros escravos chamados no Brasil angolas, cabindas, benguelas, congos,
moçambiques. Banto é família lingüística e não etnográfica ou antropológica.
Inclui duzentas e setenta e quatro línguas e dialetos aparentados.
Banzo - s. m. Nostalgia mortal dos negros da África: "Uma
moléstia estranha, que é a saudade da pátria, uma espécie de loucura nostálgica
ou suicídio forçado, o banzo, dizima-os pela inanição e fastio, ou os torna
apáticos e idiotas." (João Ribeiro, História do Brasil, p.207)
Bará - [Do nagô] s. m. É uma qualidade de Exu, deus
nagô, mensageiro entre os demais deuses e os humanos. Etnograficamente falando,
Bará é chamado todo Exu de caráter pessoal ou privado. Assim, cada deus
tem o seu Exu ou escravo, como também se diz, de caráter privado, que se chama
Bará, daí ouvir-se falar em Bará de Oxossi, Bará de Oxalá, Bará de Ogum e assim
por diante. O mesmo acontece com o eledá (Deus guardião da pessoa) de
cada indivíduo, que também tem o seu Bará. Todo Bará leva um nome que o
distingue dos demais e se identifica com seu dono.
Baraúna - s. f. Designa uma árvore de grande porte, Melanoxylon
barauna, Schot. É termo tupi de ybirá-una, a madeira preta.
Barravento - s. m. 1. O mesmo que barlavento. Termo de origem
ainda incerta. É termo náutico já registrado pelo Barão de Angra, com o significado
de "lado donde sopra o vento". 2. Designa também o ato de uma
pessoa perder o equilíbrio do corpo, como se sentisse uma ligeira tontura. 3.
Nome que se dá a um toque litúrgico, nos candomblés de nação Angola, assim como
aos cambaleios que dá qualquer pessoa antes de ser totalmente possuída pelo
orixá dono de sua cabeça.
Barro Vermelho - s. m. Topônimo designativo de um
lugarejo existente na ilha de Itaparica, na Bahia.
Batuque - s. m. 1. Designação comum às danças negras
acompanhadas por instrumentos de percussão. 2. Luta popular, de origem
africana, também chamada de batuque-boi; muito praticada nos municípios de
Cachoeira e de Santo Amaro, e na capital da Bahia. A tradição indica o
batuque-boi como de procedência banto. Diz Édison Carneiro (Negros Bantos):
"A luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez. Estes, dado o sinal,
uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os
testículos. Havia golpes interessantíssimos, como a encruzilhada, em que
o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda
como o baú, quando as duas coxas do atacante davam um forte solavanco
nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado
em ficar em pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria
perdido, irremediavelmente, a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os
batuqueiros em banda solta, isto é, equilibrados numa única perna, a
outra no ar, tentando voltar à posição primitiva".
Bênção - s. f. Golpe contundente, ou apenas desequilibrante, do
jogo de Capoeira. Um dos movimentos básicos, em que o capoeirista aplica
um chute com a planta do pé na altura do plexo solar do adversário.
Benguela - (topônimo) s. m. Corruptela de banguela
ou banguelo. Pessoa sem dentes; sem os incisivos. Encontra-se o vocábulo
em algumas "cantigas de escárnio". Ex:
"Acho ser coragem sua
Me convidar pra martelo,
Que eu não respeito outro homem
Quanto mais um amarelo,
Que, além de amarelo, é torto
É, além de torto, é banguelo."
O costume de limar os dentes, por motivos estéticos
ou religiosos, é encontrado em lugares diversos. O vocábulo interessa à
etnologia brasileira por estar ligado com uma fonte exportadora de escravos em
Angola. Os negros banguelas ou ganguelas, liumbas, loenas cortam os dentes.
Berimbau - (Ver página Os
Instrumentos, em Música)
Besôro - s. m. 1. Corruptela de besouro. A maioria
dos lingüistas considera desconhecida a origem do termo. Designação comum aos
insetos coleópteros. 2. Na capoeira, geralmente é nome próprio
personativo, designando o capoeirista Manuel Henrique, conhecido como Besouro
Cordão de Ouro, ou Besouro Mangangá, um dos heróis míticos da
capoeira.
Besouro Cordão de Ouro - Nome próprio personativo. Ver Besôro
(2).
Biriba - s. f. É a madeira mais comumente usada para se
confeccionar a verga do berimbau.
Boca-de-calça - s. f. Golpe desequilibrante do jogo de
Capoeira. O capoeirista, aproveitando-se de um descuido do adversário,
segura-lhe a bainha das calças ou mesmo as pernas na altura dos calcanhares,
puxando-o em sua direção, para derrubá-lo para trás.
"Bracear" - (gíria antiga, transcrita em 1886
por Plácido de Abreu) v. Dar pancada com os braços.
"Bramar" - (gíria antiga, transcrita em 1886
por Plácido de Abreu) v. Gritar o nome da província ou casa a que
pertence o capoeira; no século XIX, no Rio de Janeiro, os capoeiras dividiam-se
em maltas, cada uma dominando uma freguesia (ou província), e se enfrentavam
amiúde.
Brevenuto - s. m. Corruptela de Bevenuto. Nome próprio
personativo, do italiano benvenuto, bem-vindo.
Burumbumba - s. m. Uma das denominações do berimbau, registrada por
Fernando Ortiz, que tem trabalhos extraordinários sobre a etnografia
afro-cubana. Ortiz fornece-nos uma informação valiosa: a do uso do berimbau nas
práticas religiosas afro-cubanas, coisa que não se tem notícia de outrora se
fazer no Brasil, e nem tampouco em nossos dias, a não ser nas práticas
religiosas de após o último Concílio Ecumênico, com o surgimento de missas
regionais, como a conhecida pelo nome de Missa do Morro e outras, onde o
berimbau, juntamente com outros instrumentos africanos, tem papel importante.
(Veja mais sobre o berimbau em Instrumentos.
- C -
Cabaça
- s. f. (Cucurbita lagenaria, Linneu)
É uma planta rampante. De uso múltiplo e secular entre os utensílios
domésticos, herdados da indiaria. Usa-se na construção do berimbau: numa de
suas extremidades, amarra-se uma cabaça, e esta, quanto mais seca estiver,
melhor. Faz-se na cabaça uma abertura na parte que se liga com o caule e, na
parte inferior, dois furinhos por onde passará o cordão que vai ligá-la ao arco
de madeira e ao fio de aço.
Cabecêro
- s. m. Corruptela de cabeceiro,
derivado de cabeça, do latim capitiu. Cabeceiro designa o
capoeira que usa, com freqüência, golpes com a cabeça.
Cabinda
- s. 2 g. Dizem cambinda, no Brasil. 1. Região
ao norte de Angola, entre o rio Zaire, o ex-Congo belga e o Atlântico. 2. Foi
sinônimo do escravo africano. Indivíduo dos cabindas, povo banto da região de
Cabinda. 3. A língua dos cabindas. 4. Dança mímica popular
afro-brasileira, parte de certos maracatus em que os participantes dançam
pulando de cócoras à maneira de sapos.
Cabôco
- s. m. Corruptela de caboclo, de
origem ainda controversa. Significa o nascido de pai indígena e mãe africana e,
de um modo geral, designa o indígena do Brasil e da América.
Cabra
- Além de ser
designativo de um animal, é também o do mulato escuro e do indivíduo
agressivo e de mau caráter. Esse tipo de gente sempre inquietou a segurança
pública.
Cabula
- s. m. Nome de um bairro de Salvador. Termo
de origem ainda desconhecida. Esse bairro foi refúgio de negros africanos e até
hoje está lá a marca de suas presenças, com os inúmeros candomblés, sobretudo
os de nação Angola, que possuem um toque chamado cabula, daí a provável
origem do nome do bairro.
"Caçador"
- s. m. tombo que o capoeira dá,
arrastando-se no chão sobre as mãos e um dos pés e estendendo a outra perna
direita de encontro aos pés do adversário.
Calunga
- s. f. 1. Divindade secundária do culto banto.
Deusa do mar e também dos cemitérios (Angola); 2. O fetiche dessa
divindade; 3. Boneca levada na procissão dos Maracatu.
Camará
- s. m. Corruptela de camarada, do
espanhol, "grupo de soldados que duermen y comen juntos" e este do
latim vulgar cammara. No linguajar da capoeira, aparece com a acepção
pura e simples de companheiro.
"Cambar"
- (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Passar de um partido para
outro.
Camboatá
- s. m. Designa uma qualidade de peixe
pequeno, que vive em água doce. Teodoro Sampaio deriva de caabo-oatá, o
que anda pelo mato. Não obstante ser popular a forma camboatá, há as
alterações cambotá, camuatá e tamoatá.
Camunjerê
- Termo
desconhecido na sua origem e na sua acepção.
Candomblé
- s. m. Termo de origem ainda desconhecida.
Designa a religião que os africanos trouxeram para o Brasil. Sua maior área de
expansão é na Bahia e é designação mais específica da religião dos povos nagôs.
Existiu no Brasil uma dança chamada candombe, muito comum nos países da
região do Prata. Como quase todos os folguedos dos negros, essa dança esteve
sempre na mira policial. Os candombes eram feitos em casa, em recinto
fechado, não obstante saírem às ruas nos dias propícios. Era um folguedo
profano, com interligações religiosas com o candomblé, como é o afoxé.
Cão
- s. m. Do latim canes. Em geral,
aparece nas cantigas de capoeira com a acepção de demônio.
Ca
ô cabiesi - Corruptela
de Ka wo ká biyè sì, expressão com que os povos nagôs saúdam Xangô, deus
do fogo e do trovão e que, segundo Johnson, foi o quarto rei lendário de Oyó,
capital dos povos iorubás.
Capadócio
- s. m. 1. De, pertencente ou relativo à Capadócia (Ásia Menor). 2.
Que tem maneiras acanalhadas. 3. Impostor, trapaceiro, parlapatão.
Era como alguns cronistas se referiam aos capoeiras, até começos do século XX.
Capitão-do-mato
- s. m.
Bras. Indivíduo que
se dedicava à captura dos escravos fugidos. "Capitães-do-mato, assim se
chamavam os caçadores de negros, aos quais a lei em regulamentos especiais
concedia poderes discricionários contra aquelas miseráveis criaturas que fugiam
ao jugo da escravidão." (João Ribeiro, História do Brasil.)
"Carrapeta"
- s. m. Pequeno esperto e audacioso que
brama desafiando os inimigos.
Casa-Grande
- s. f. Construção que servia de habitação
aos senhores de engenho, no Brasil colonial. Caracterizava-se por grossas
paredes de taipa ou de pedra e cal, coberta de palha ou de telha-vã, alpendre
na frente e dos lados, telhados caídos num máximo de proteção contra o sol
forte e as chuvas tropicais. Completada pela senzala, a casa-grande representa
todo um sistema econômico, social, político: de produção (a monocultura
latifundiária); de trabalho (a escravidão); de transporte (o carro de boi, o
bangüê, a rede, o cavalo); de religião (o catolicismo de família, com capelão
subordinado ao pater familias, culto dos mortos, etc.); de vida sexual e
de família (o patriarcalismo polígamo); de higiene do corpo e da casa (o
"tigre", a touceira de bananeira, o banho de rio, o banho de gamela,
o banho de assento, o lava-pés); de política (o compadrismo). Foi ainda
fortaleza, banco, cemitério, hospedaria, escola, santa casa de misericórdia
amparando os velhos e as viúvas, recolhendo órfãos.
Cata-corumba
- expressão cunhada
por Mestre Suassuna para designar o agarramento no jogo da Capoeira, a
imobilização do adversário, prática totalmente contrária às regras e ao
espírito da Capoeira, apesar de muito utilizada hoje em dia, nestes tempos de
desfiguração da arte/luta.
Cativo
- adj. Que não goza de liberdade; escravo.
"Caveira
no espelho" - (gíria
antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. f. Cabeçada na cara.
Ceia
dos camarões - O
temido Major Vidigal instituiu uma seção de torturas para os capoeiristas,
ironicamente chamada "Ceia dos Camarões". Curiosamente, Vidigal
também era um capoeirista habilidoso.
Chamada
- s. f. Um dos rituais da capoeira
tradicional. As chamadas, também conhecidas como "passagens",
erroneamente interpretadas como simples momentos de descanso durante o jogo,
constituem um momento de extremo perigo; fazem parte dos rituais da capoeira
tradicional, e visam a despertar a malícia dos seus praticantes. Quando for chamado,
aproxime-se com bastante cautela, pois, dentro das normas da capoeiragem, o
capoeirista que chama poderá aplicar o golpe que desejar, caso o
outro aproxime-se sem o devido cuidado.
Chibata
- s. f. 1. Vara delgada para fustigar; junco. 2.
P. ext., chicote: cordel entrançado ou correia de couro, ligada ou
não a um cabo de madeira, ordinariamente para castigar animais (ou escravos...)
3. Bras. Capoeira: Golpe traumatizante em que o capoeira,
aproveitando-se de eventual posição abaixada do parceiro de jogo, apóia-se no
chão com uma das mãos (como se fosse para um "pião-de-mão") e projeta
todo o corpo por cima dos ombros; uma das pernas estará flexionada, e fará o
apoio com a planta do pé no chão, quando o giro se completar; a outra,
esticada, descerá qual chibatada sobre o corpo do oponente: ele, lá, que se
cuide! Obs.: O texto correspondente no Novo Dicionário Aurélio,
referente ao significado do termo chibata na Capoeira, é-nos, quase
incompreensível; mestre Aurélio descreve talvez uma seqüência em que o capoeira
tenta aplicar uma rasteira (em pé), erra o alvo, gira e se lança na chibata...
"Chifrada"
- (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. f. Cabeçada.
Cocorocô
- Voz onomatopaica
emitida pelos galos.
- D -
Dança
da malandragem - s.
f. Outra das
denominações da capoeira, esta colhida de Mestre Maneca Brandão, grande mestre
da região de Itabuna.
Dendê
- s. m. Planta da família das palmáceas (Elaesis
guineensis, Linneu). Foi trazido para o Brasil pelos negros africanos, sem
contudo se poder precisar a data exata. O fruto é o fetiche do orixá Ifá nos
candomblés da Bahia, desvendando o futuro. O azeite é indispensável na
culinária afro-brasileira. Dendê é pitéu, gostosidade, ou coisa boa,
apreciável.
"Desgalhar"
- (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Fugir da polícia.
"Distorcer"
- v. disfarçar ou retirar-se por qualquer
motivo.
Dobrão
- s. m. Moeda grande, antiga, de 40 réis,
que os capoeiristas usavam para tocar o berimbau. O nome aplicou-se, por
extensão, aos seixos arredondados ou às arruelas usados para o mesmo fim.
- E -
"É
direito!" - (gíria
antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) interj. É destemido!
"Encher"
- (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Dar bordoada.
"Endireitar"
- (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Enfrentar o inimigo.
"Espada"
- (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) Senhora da Lapa. Cada uma das maltas,
no Rio de Janeiro, ocupava uma freguesia (bairro) da cidade, província ou
território que controlavam e disputavam entre si. Quando se enfrentavam,
"bramavam" (gritavam) o nome da província a que pertenciam.
- F -
Faca-de-ponta
- s. f. Instrumento perfuro-cortante,
"arma branca" que portavam alguns capoeiristas nos embates de rua.
Designa também um golpe, a cotovelada.
Frevo
- s. m. Dança de rua e de salão, é a grande
alucinação do carnaval pernambucano. O passo, que é a movimentação do
frevo, é filho da capoeira; como nos conta Edison Carneiro (Cadernos de
Folclore, 1971), "a
hora final chegou para as maltas do Recife mais ou menos em 1912, coincidindo
com o nascimento do frevo, legado da capoeira (melhor diria 'o passo', que é a
dança; o frevo é a música que o acompanha). As bandas rivais do Quarto (4o.
Batalhão) e da Espanha (Guarda Nacional) desfilavam no carnaval pernambucano
protegidas pela agilidade, pela valentia, pelos cacetes e pelas facas dos
façanhudos capoeiras que aos saracoteios desafiavam os inimigos: 'Cresceu,
caiu, partiu, morreu!' A polícia foi acabando paulatinamente com os moleques
de banda de música e com seus líderes, Nicolau do Poço, João de Totó, Jovino
dos Coelhos, até neutralizar o maior deles, Nascimento Grande".
- G -
Gaiamun
ou Guaiamun - s.
m. Espécie de crustáceo da mesma família dos caranguejos (Cardisona guanhumi,
Lattreille). Era a denominação de uma das gangues de capoeiras, conhecidas por
"maltas", que infernizavam a vida do Rio de Janeiro no final do
século XIX e começo do XX.
Gamelêra
- s. f. Coruptela de gameleira,
árvore da família das moráceas, pertencente ao gênero ficus. Árvore de grande
porte, utilizada para fabricação de canoas, vasos e gamelas.
Gangambá
- s. m. Corruptela de mangangá, que
deriva de mamangaba ou mamangava. 1. Designa as espécies
de insetos himenópteros da família dos bombídeos, que representam as grandes
abelhas sociais. Constroem ninho no solo entre touceiras de capim
Gangazumba
- "Grande
Chefe", líder negro, chegou ao quilombo de Palmares no tempo da invasão
holandesa. Era um africano alto e musculoso. Tinha, provavelmente, temperamento
suave e habilidades artísticas - como têm, em geral, os nativos de Allada,
nação fundada pelo povo ewe, na Costa dos Escravos. Em 1670, Gangazumba reinava
sobre todos os povoados que constituíam Palmares. Juntos, cobriam mais de seis
mil quilômetros quadrados: Macaco, na Serra da Barriga (oito mil moradores);
Amaro, perto de Serinhaém (cinco mil moradores); Subupira, nas fraldas da Serra
da Juçara; Osenga, próximo do Macaco; aquele que mais tarde se chamou Zumbi,
nas cercanias de Porto Calvo; Aqualtene, idem; Acotirene, ao norte de Zumbi
(parece ter havido dois Acotirenes); Tabocas; Dambrabanga; Andalaquituche, na
Serra do Cafuxi; Alto Magano e Curiva, perto da atual cidade pernambucana de
Garanhuns; Gongoro; Cucaú; Pedro Caçapava; Guiloange; Una; Catingas;
Engana-Colomim... quase trinta mil viventes, no total. Sob o comando de
Gangazumba, as aldeias palmarinas haviam se transformado num Estado, com
exército, Conselho geral das lideranças, ministros (fâmulos), etc. Gangazumba
tratava os ministros de filhos, o ministro da guerra de irmão, os
chefes de aldeias (ou mocambos) de sobrinhos, os funcionários e oficiais
do exército de netos; as mulheres idosas eram mães.
Gereba
- Nome próprio.
Laudelino Freire e Figueiredo trazem-no com a acepção de indivíduo desajeitado
e gingão. Na cantiga, segundo Waldeloir Rego, aparece como apelido de tipos
populares. "Quando garoto, conheci um desses tipos com o apelido de
Gereba, que a meninada sempre importunava, gritando: Gereba!... Quebra
Gereba!...
Gunga
- s. m. Palavra de origem bunda, designa o
berimbau, instrumento musical usado na capoeira.
- H -
*não encontrei nenhuma palavra com a letra H. =/
- I -
Idalina
- s. f. Nome próprio personativo. De Idalia,
"nome de uma cidade da ilha de Chipre, onde havia um templo de Vênus, pelo
que os nossos poetas dizem freqüentemente Vênus Idalia. Nos Lusíadas,
IX, 25: Idalios amantes".
Iê!
- Interj. Corruptela de ê! Seu uso é
exclusivo nas canções de capoeira. É como o mestre de Capoeira chama para si a
atenção de todos.
Ilha
de Maré - s. f. Nome de uma ilha pertencente ao
Estado da Bahia.
Imbora
- adv. Corruptela de embora, que
por sua vez deriva da locução em boa hora, que Leite de Vasconcelos acha
que não é outra coisa senão resquício da superstição antiqüíssima das horas
boas e más, a qual ainda hoje existe no Brasil. Embora, além de
funcionar como advérbio, funciona também como conjunção, interjeição e
substantivo - como sinônimo de parabéns, felicitações. O oposto a
embora (em boa hora), dentro do ponto de vista das superstições, é em
hora má, usadíssimo na língua antiga, especialmente em Gil Vicente, sob as
variantes eramá, eremá, aramá, ieramá, earamá,
e muitieramá.
Inducação
- s. f. Corruptela de educação,
derivado do latim educatione, educação, instrução.
Inganadô
- adj. Corruptela de enganador,
derivado de enganar, que por sua vez vem do latim tardio ingannare.
Insinô
- v. Corruptela de ensinou, do
verbo ensinar, que provém do latim hipotético insignare, que se
espalhou por diversas línguas românicas.
Itabaianinha
- Nome de uma
cidade do Estado de Sergipe. Diminutivo de Itabaiana,
Iúna
- s. f. Corruptela de inhuma ou anhuma.
[Do tupi ña 'um, 'ave preta', com aglutinação do artigo] 1. Ave
anseriforme, da família dos anhimídeos (Anhuma cornuta). Mestre Maneca
Brandão ("O Canto da Iúna - A Saga de um Capoeira",
Itabuna/BA, 1ª ed.) acrescenta: "símbolo da sagacidade e da matreirice,
(...) a ave existe realmente e habita os brejos, charcos, lagoas, etc. O termo
"Iúna" é uma corruptela de seu verdadeiro nome: Inhuma ou
Anhuma. Ela tem o porte de um peru, com pernas longas e pés de dedos
grandes, com dois esporões carpianos em cada asa, além de um longo espinho
córneo no alto da cabeça. Sua plumagem é bruno enegrecida e negra. [Sin.: alicorne,
anhima, cametau, cauintã, cavitantau, cauintau, inhaúma, inhuma, licorne,
unicorne, unicórnio.] 2. Nome dado a um toque de berimbau, muito
melodioso, usado no jogo da capoeira. Toque criado por Mestre Bimba, para jogo
rasteiro, ligado e com balões, usado somente por mestres de Capoeira.
Iúna, ou
Inhuma, ou ainda Anhuma,
ave-símbolo da sagacidade e matreirice.
ave-símbolo da sagacidade e matreirice.
- J -
Jogá
- v. Corruptela de jogar.
Meyer-Lübke, Diez, Carominas, Pidal e Wartburg derivam de jocari,
brincar, divertir-se.
- K -
*não encontrei nenhuma palavra com a letra H. =/
- L -
Lambaio - s. m. Bajulador, adulador. O vocábulo deve se prender ao verbo lamber,
derivado de lambere, lamber, lavar, com representação nas línguas
românicas.
Lampião - s. m. Nome próprio do famoso cangaceiro do Nordeste do Brasil, Virgolino
Ferreira da Silva, nascido na paróquia de Floresta do Navio, em Pernambuco, a 4
de junho de 1898, e morto numa gruta da Fazenda Angicos, Porto da Folha, em
Sergipe, na madrugada de 28 de julho de 1938, abatido com um tiro de fuzil na
cabeça, pelo soldado Antônio Honorato da Silva, do destacamento da Polícia
Militar de Alagoas, comandado pelo Capitão João Bezerra da Silva. Sua
companheira e amásia, Maria Bonita, caiu ao seu lado e mais nove companheiros,
degolados para comprovação de que a horda tinha sido extinta. Vaqueiro
destemido, amansador de cavalos e burros bravios, fazia obras de couro
caprichadas, tocava animadamente a sanfona de oito baixos. Em 1926, já era
famoso, celebrado, conhecido e com uma patente de capitão, dada pelo Padre
Cícero, do Juazeiro, datada do "Quartel General das Forças Legais, 12 de
abril". Do Ceará à Bahia, foi o mais temível chefe de cangaceiros de todos
os tempos sertanejos. Estrategista nato, incomparável conhecedor da topografia
regional, enfrentou a Polícia Militar de sete Estados, em mais de cem encontros
mortíferos.
Lemba - s. m. Corruptela do daomeano Elegba, o mesmo que Elegbará,
um dos designativos de deus nagô Exu. Os jejes (negros do Daomé) foram
quase absorvidos pelos nagôs, especialmente no domínio religioso e social na
Bahia. Um dos orixás jejes que resistiu e deixa ainda ser visível é Legba,
Elegbará, o senhor Leba, o homem das encruzilhadas, e alguns vestígios do culto
ofídico, a veneração à serpente, base litúrgica do Vodu nas Antilhas são
encontrados, embora em condições apenas perceptíveis.
Licuri - s. m. Palmeira silvestre que possui pequenos cocos. (Cocos coconata,
Mart.) Teodoro Sampaio diz ser a planta comuníssima, nas regiões secas do
norte do Brasil, mas com a denominaçào mais freqüente de ouricury, que
ele deriva de airi-curii, o cacho amiudado, e dá as variantes uricuri,
aricuri, licuri, nicury, iriricury e mucury.
Em 1587, quando escreveu o Tratado Descritivo do Brasil, Gabriel Soares
de Souza já fazia o apanágio dos ouricuris: - "As principais palmeiras
bravas da Bahia são as que chamam ururucuri, que não são muito altas, e dão uns
cachos de cocos muito miúdos do tamanho e cor dos abricoques por ser brando e
de sofrível sabor; e quebrando-lhe o caroço, d'onde se lhe tira um miolo como
das avelãs, que é alvo e tenro e muito saboroso, os quais coquinhos são mui
estimados de todos."
Loiá - Contração de lá oiá, corruptela de lá olhar.
Luanda - s. f. Nome de uma cidade africana e capital de Angola. Uma das
principais cidades de onde partiam os navios negreiros com destino ao Brasil.
Anteriormente, o nome da capital era somente São Paulo da Assunção, dado
pelos portugueses. Mais tarde, substituíram da Assunção por de Luanda,
ficando São Paulo de Luanda, ou simplesmente Luanda, como é mais
conhecida em nossos dias. Luanda, segundo Cannecattin, quer dizer tributo.
- M -
Maculelê
– Conta-se
a história de que Maculelê era um negro fugido que tinha doença
de pele. Ele foi acolhido por uma tribo
indígena e cuidado por eles, mas ainda assim não podia realizar
todas as atividades com o grupo, por não ser um índio também.
Certa vez, Maculelê foi deixado sozinho na aldeia, quando a tribo saiu para caçar. E eis que uma tribo
rival aparece para dominar o espaço.
Maculelê lutou sozinho contra o grupo rival e, heroicamente,
venceu a disputa. Desde então passou a ser considerado um herói na tribo.
A dança com bastões simboliza a luta de Maculelê contra
os guerreiros.
Há quem diga que o Maculelê surgiu em Santo Amaro da
Purificação, entre os negros
de engenho, numa forma de mostrar a luta dos escravos contra o feitor,
daí a dança ter um "mestre" com uma grima maior, que "bate"
em todos os demais.
Foi Popó do Maculelê o responsável pela sua divulgação,
formando um modesto grupo com seus filhos, netos e outros negros da Rua da
Linha, e se apresentava no dia 2 de Fevereiro, na festa da Padroeira de Santo
Amaro, Nossa Senhora
da Purificação.
Popó era condutor do trólei puxado a burros, no tempo que
ainda existia o vapor (linha regular de navios de Santo Amaro
a Salvador).
Nesse tempo a cidade era servida por uma linha de bondes
puxados a burros, que se chamava Trilhos Urbanos, que durante muito
tempo foi uma marca curiosa dessa cidade, extinta no final da década de 50.
Segundo Popó, o Maculelê era praticado anteriormente por Negros Malês.
Os africanos diziam que esta dança era
mais uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do cativeiro.
Enquanto os negros dançavam com os cepos de cana no meio do canavial, cantavam
músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as cantavam nos dialetos que
trouxeram da África para que os feitores não entendessem o sentido das
palavras. Assim como a "brincadeira de Angola" camuflou a
periculosidade dos movimentos da capoeira, a dança do maculelê também era uma
maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança.
Aos golpes e investidas dos feitores
contra os negros, estes se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes
porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de
acordo com o abaixar e levantar do negro com os porretes em punho. Além desta
defesa, os negros pulavam de um lado pro outro dificultando o assédio do
feitor. Para as lutas travadas durante o dia, os negros treinavam durante a
noite nos terreiros das senzalas com paus em chama que retiravam das fogueiras,
trazendo ainda mais perigo para o agressor.
O maculelê pode ser feito com porretes
de pau, facões ou facas, mas, alguns grupos praticam o maculelê com tochas de
fogo ou "tições" retirados na hora de uma fogueira que também fica no
meio da roda junto com os dançarinos.
O maculelê é portanto, um bailado
guerreiro que foi desenvolvido por homens negros, compreendendo dançadores e
cantadores, todos comandados por um mestre, denominado “macota”. Os
participantes usam um bastão de madeira com cerca de 60 cm de comprimento,
exceto o macota, que tem um mais longo. Os bastões são batidos uns nos outros,
em ritmo forte e compassado. Estas pancadas presidem toda a dança, funcionando
como marcadoras do pulso musical.
Maitá
- Parece ser
corruptela de Humaitá, com síncope da sílaba inicial. Em face dos
episódios da guerra do Brasil com o Paraguai, justamente na época em que os
capoeiras começavam a chegar ao auge em suas atividades, as cantigas se referem
sempre a Humaitá, daí poder-se admitir a hipótese acima.
Major
Miguel Nunes Vidigal - Um
ano após a chegada de D. João VI (1808), criou-se a Secretaria de Polícia e foi
organizada a Guarda Real de Polícia, sendo nomeado para sua chefia o major
Nunes Vidigal, perseguidor implacável dos candomblés, das rodas de samba e
especialmente dos capoeiras, “para quem reservava um tratamento especial, uma
espécie de surras e torturas a que chamava de Ceia dos Camarões”. O major
Vidigal foi descrito como "um homem alto, gordo, do calibre de um
granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de um
sangue-frio e de uma agilidade a toda prova, respeitado pelos mais temíveis
capangas de sua época. Jogava maravilhosamente o pau, a faca, o murro e a
navalha, sendo que nos golpes de cabeça e de pés era um todo inexcedível".
Sobre ele, também disse Mário de Andrade: "O Major Vidigal, que principia
aparecendo em 1809, foi durante muitos anos, mais que o chefe, o dono da
Polícia colonial carioca. Habilíssimo nas diligências, perverso e ditatorial
nos castigos, era o horror das classes desprotegidas do Rio de Janeiro. Alfredo
Pujol lembra uma quadrinha que corria sobre ele no murmúrio do povo:
Avistei
o Vidigal.
Fiquei sem sangue;
Se não sou tão ligeiro
O quati me lambe.
(Mário
de Andrade, introdução às Memórias de um Sargento de Milícias, São
Paulo, 1941).
Malta
- s. f. Gangues ou hordas de capoeiras que
infestavam e infernizavam as ruas da cidade do Rio de Janeiro, no final do
século XIX e começo do século XX, mancomunadas com a prostituição.
Malungo
- s. m. Companheiro, camarada; da mesma
condição. Etim.: os negros chamavam malungos aos companheiros de bordo
ou viagem, generalizando-se depois no Brasil o epíteto; provém do locativo
conguês m'alungu, contração de mualungu, no barco, no navio
(Jacques Raimundo, O Elemento Afro-Negro na Língua Portuguesa, Rio de
Janeiro, 1933). ...
Mandacaru
- s. m. Planta da família das cactáceas.
Derivam-na de mandacaru, o feixe ou molho pungente.
Mandinga
- Feitiço,
despacho, mau-olhado, ebó. Os negros mandingas eram tidos como feitceiros
incorrigíveis. Os mandingas ou malinkes, dos vales do Senegal e do Níger, foram
guerreiros conquistadores, tornados muçulmanos. "Este povo, a que os
negros chamavam mandinga, os espanhóis mandimença e masmol, maniinga (do
radical mani ou mali, o hipopótamo, visto que eram povos
totêmicos, e a terminação nke, povo), tinha uma índole guereira e cruel.
Não obstante a influência maometana, eram considerados grandes mágicos e
feiticeiros, e daí o termo mandinga, no sentido de mágica, coisa-feita,
despacho, que os negros divulgaram no Brasil" (Artur Ramos, Culturas
Negras no Novo Mundo, citado em Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore
Brasileiro).
Mandinguêro
ou Mandiguêro - adj.
Corruptela de mandingueiro. Na capoeira, designa o capoeirista ladino,
maneiroso, cheio de negaças, truques,disfarces e ardis.
Manduca
da Praia -
Mangangá
- O mesmo que gangambá.
Maracangalha
- s. f. Nome próprio designativo de um
lugarejo no Estado da Bahia. Famoso no mundo da capoeira, graças às façanhas do
temível capoeirista Besouro, que lá morreu, assassinado com um golpe de faca de
tucum. O termo foi imortalizado depois pelo grande cancioneiro Dorival Caymmi,
com o samba que fez o maior sucesso na época:
Eu
vou pra Maracangalha, eu vou
Eu vou de liforme branco, eu vou
Eu vou de chapéu de palha, eu vou
Eu vou convidar Anália, eu vou
Se
Anália não quiser ir
Eu vou só, eu vou só, eu vou só
Se Anália não quiser ir
Eu vou só,
Eu vou só, eu vou só sem Anália,
Mas eu vou.
A origem do nome
ainda é desconhecida. Os habitantes do local dão a seguinte explicação: "Em
época remota, que ninguém sabe precisar, mas que deve ter aí seus 200 anos, nos
primórdios dos antigos engenhos, bandos de ciganos acampavam ali,
constantemente, em suas andanças pelo sertão. Ao prepararem os animais para as
viagens, gritavam uns para os outros: 'Amarra a cangalha'. Os pretos escravos
pegaram a coisa e passaram a repetir a palavra deturpada, para zombar dos
ciganos. Com o passar dos tempos, o uso se arraigou e Maracangalha entrou para
a geografia do Brasil".
Maracatu
- s. m. Grupo carnavalesco pernambucano, com
pequena orquestra de percussão, tambores, chocalhos, gonguê (agogô dos
candomblés baianos e das macumbas cariocas), que percorre as ruas, cantando e
dançando sem coreografia especial. Respondem em coro ao tirador de loas,
solista. Composto em sua maioria de negros. É visível vestígio dos
séquitos negros que acompanhavam os reis de congos, eleitos pelos escravos,
para a coroação nas igrejas e posterior batuque no adro, homenageando a
padroeira ou Nossa Senhora do Rosário. Perdida a tradição sagrada, o grupo
convergiu para o carnaval, conservando elementos distintos de qualquer outro
cordão na espécie.
Marimbondo
- s. m. (do quimbudo ma, pref. pl., +
rimbondo, 'vespa'.)
1. Designação comum aos insetos himenópteros da família dos vespídios. 2. Alcunha que os portugueses davam aos brasileiros na época da independência. 3. Alcunha dos sediciosos pernambucanos que em 1852 se manifestaram em protesto contra a execução do decreto imperial de 18 de junho de 1851, que instituiu o registro de nascimentos e óbitos. 4. Dança popular em Goiás. "Os assistentes formam um círculo; o dançante fica ao meio deste, com o pote equilibrado sobre a cabeça. Os do círculo gritam: "Negro, o que qui tem?" Ele responde: "Maribondo, Sinhá!", passando as mãos pelo rosto e pelo resto do corpo, como se tirasse marimbondos que o mordessem, dançando, pulando sem se derramar a água do pote, encimada por um cuité. O instrumento próprio é a caixa ou o pandeiro. Quando o dançante se cansa, ajoelha-se aos pés do assistente que for escolhido para substituí-lo. Este, não querendo sair a dançar, pagará uma multa em bebidas: vinho, aguardente, etc., conforme os passes. (A. Americano do Brasil, Cancioneiro de Trovas do Brasil Central, S. Paulo, 1925).
1. Designação comum aos insetos himenópteros da família dos vespídios. 2. Alcunha que os portugueses davam aos brasileiros na época da independência. 3. Alcunha dos sediciosos pernambucanos que em 1852 se manifestaram em protesto contra a execução do decreto imperial de 18 de junho de 1851, que instituiu o registro de nascimentos e óbitos. 4. Dança popular em Goiás. "Os assistentes formam um círculo; o dançante fica ao meio deste, com o pote equilibrado sobre a cabeça. Os do círculo gritam: "Negro, o que qui tem?" Ele responde: "Maribondo, Sinhá!", passando as mãos pelo rosto e pelo resto do corpo, como se tirasse marimbondos que o mordessem, dançando, pulando sem se derramar a água do pote, encimada por um cuité. O instrumento próprio é a caixa ou o pandeiro. Quando o dançante se cansa, ajoelha-se aos pés do assistente que for escolhido para substituí-lo. Este, não querendo sair a dançar, pagará uma multa em bebidas: vinho, aguardente, etc., conforme os passes. (A. Americano do Brasil, Cancioneiro de Trovas do Brasil Central, S. Paulo, 1925).
Martelo
- s.m. 1. Nome dado pelo sertanejo ao verso de
dez sílabas, com seis, sete, oito, nove ou dez linhas. Câmara Cascudo explica a
razão da denominação de martelo para este tipo de verso: "Pedro
Jaime Martelo (1665-1727), professor de literatura na Universidade de Bolonha,
diplomata e político, inventou os versos martelianos ou martelos, de
doze sílabas, com rimas emparelhadas. Esse tipo de alexandrino nunca se
adaptou na literatura tradicional brasileira, mas o nome ficou, origem erudita
visível em sua ligação clássica com os primeiros letrados portugueses do
primeiro quartel do século XVIII. Cantar o martelo, improvisá-lo ou declamá-lo,
respondendo ao adversário no embate do desafio, é o título mais ambicionado
pelos cantadores". 2. Nome de um golpe de capoeira; chute lateral
que pode visar as costelas ou a cabeça do adversário.
Muleque
- [Do quimb. mu'leke,
menino] s. m. Corruptela de moleque. 1. Negrinho. 2. Indivíduo
sem palavra, ou sem gravidade. 3. Canalha, patife, velhaco. 4. Bras.
Menino de pouca idade. 5. Engraçado, pilhérico, trocista, jocoso.
[Fem.: moleca.]
Munganga
- s. f. (Var. de moganga,termo de
origem africana) 1. Caretas, trejeitos, esgares, momices; mogiganga. 2.
Carícias, lábias.
- N -
Nagô
- adj. Nome que se dá ao iorubano ou a todo
negro da Costa dos Escravos que falava ou entendia o ioruba. Migeod (The
Langs, of West Afri. II, 360) assinala que nagô é nome dado, no
Daomé, pelos franceses ao iorubano: do efé anagó. Tem o feminino nagoa.
Abundantemente exportados para o Brasil, os nagôs tiveram prestigiosa
influência social e religiosa entre o povo mestiço, conservando, com os
processos de aculturação, seus mitos e tradições sacras. Localizados em maior
porção na Bahia, foram estudados, nos seus descendentes e projeção etnográfica
e folclórica, por Nina Rodrigues, Manuel Querino, Artur Ramos, Édison Carneiro,
etc. É o grupo negro mais conhecido em seu complexo social vivo. A persistência
nagô determina o candomblé, macumba, catimbó, xangôs, sinônimo do primeiro
vocábulo, reunião do seu cerimonial. Os sacerdotes, babalaôs, babas,
babalorixás, o auxiliar axogum, pai, mãe, filha-de-santo, o ebó (feitiço),
instrumentos musicais (tambores, agogô, aguê, adjá, afofiê), os contos da
tartaruga, awon, a culinária que se tornou clássica na Bahia, com o
vatapá, acaçá, abobó, acarajé, abará, o santuário peji, os orixás Obatalá
(Orixalá ou Oxalá), Exu, Ogum, Oxumaré, Oxóssi, Omolu, Ibeiji, Ifá, Anambucuru,
Iroco, Iansã, os todo-poderosos Xangô e Iemanjá, são elementos fixadores dessa
prestigiosa presença na antropologia cultural.
Nagoa
- s.m. Designação de uma das gangues de
capoeiras, conhecidas por "maltas", que infernizavam a vida do Rio de
Janeiro no final do século XIX e começo do XX.
Negaça
- s. f. No jogo de capoeira, o ato de
"negar o corpo", bambolear pra lá e pra cá, ameaçar o movimento e
negá-lo; usada para confundir o oponente.
Nêgo
- s. m. Corruptela de negro, que
deriva do latim nigru, preto, negro. Designa a cor preta e o homem
portador deste pigmento.
Nhem,
nhem, nhem - Voz
onomatopaica, representativa do choro de criança.
- O -
Ói - v. Corruptela de olhe, do verbo olhar. ...
Ôi! - Interj. Bras. Exprime espanto, chamamento, resposta ao apelo do nome, saudação
jovial ao encontrar outrem, e indica, ainda, que não se ouviu bem o que foi dito
ou perguntado (Aurélio).
Orubu - s. m. Corruptela de urubu (Cathartes pepa, Linneu).
Designação comum às aves catartidiformes, da família dos catartídios, de cabeça
pelada, que se alimentam de carne em decomposição.
- P -
Panhe - v. Corruptela de apanhe, do verbo apanhar, recolher
algo do chão. Apanhar vem do espanhol apañar e este do latim pannus,
pano.
Paraguai - s. m. Nome próprio designativo de um país da América do Sul. A palavra é
de origem tupi e quer dizer Rio dos Papagaios.
Paraná - [Do tupi paraná, de pará = mar e ná = semelhante,
logo semelhante ao mar.] s. m. Bras., Amaz. 1. Braço de
rio caudaloso, separado deste por uma ilha. 2. Canal que liga dois rios.
3. Nome próprio designativo de um Estado da federação brasileira.
Patuá - s. m. Batista Caetano deriva de patigua, contraído em patuá
de patauá, designando o cesto que as mulheres traziam às costas,
amarrado à cabeça, com os pertences da rede. Simão de Vasconcelos, falando do
estado de miséria em que viviam os índios, ao comentar o seu enxoval diz que
"vem a ser uma rêde, um potiguá (que é como caixa de palhas) para guardar
pouco mais que a rêde, cabaço, e cuya: o pote, que chamam igacaba, para os seus
vinhos: o cabaço para suas farinhas, mantimentos, seu ordinario: a cuya para
beber por ella: e o cão para descobridor das feras quando vão caçar. Estes
somente vem a ser seus bens moveis, e estes levam consigo aonde quer que vão: e
todos a mulher leva às costas, que o marido só leva o arco". Por analogia,
patuá hoje em dia passou a designar um pequeno saquinho contendo axé
(coisas de alto poder mágico) e que, conforme o preceito, quem o carrega, tem
que usá-lo em contato com o corpo.
Pedido de arpão de cabeça - s. m. "Giro vertical sobre os pés, com os
braços abertos, aguardando uma cabeçada, anulada com uma joelhada na face do
colega, que já deve entrar com as mãos cruzadas, em defesa do joelho
hostil". (A definição é de Mestre Decânio, que explica: "No 'Aurélio'
encontramos... 'Arpão: ferro em feitio de seta fixado a um cabo para ser
cravado na presa.' ... entendemos! ...a seta é a cabeça; o cabo é o tronco
encurvado; as pernas são a força propulsora, procurando cravar o arpão [a
cabeça] no peito exposto [braços abertos] de quem pede. Assim é o pedido de
arpão de cabeça").
Pedrito - (Pedro de Azevedo Gordilho) Famoso chefe de polícia da
Bahia,
Pindombê - s. f. Contração de Pindomba mais a interjeição ê!
Pindomba é corruptela de pindoba, espécie de palmeira (Palma Altalea compta, Mart.), muito alta e grossa, que dá flor como as tamareiras e o fruto em cachos grandes como os coqueiros, "cada um dos quais é tamanho que não pode um negro mais fazer que leva-lo às costas". (Gabriel Soares de Souza, 1587)
Pindomba é corruptela de pindoba, espécie de palmeira (Palma Altalea compta, Mart.), muito alta e grossa, que dá flor como as tamareiras e o fruto em cachos grandes como os coqueiros, "cada um dos quais é tamanho que não pode um negro mais fazer que leva-lo às costas". (Gabriel Soares de Souza, 1587)
- Q -
Quilombo
- s. f. [Do quimb. kilombo, capital,
povoação, união.] s. m. Bras. 1. Valhacouto de escravos fugidos. 2.
Folguedo, praticado no interior de AL durante o Natal, em que dois grupos
numerosos, figurando negros fugidos e índios, vestidos a caráter e armados de
compridas espadas e terçados, lutam pela posse da rainha índia, acabando a
função pela derrota dos negros, vendidos aos espectadores como escravos; Quilombo
dos Palmares. Quilombo (1) constituído de negros fugidos, os quais,
no século XVII, se estabeleceram na Serra da Barriga, no interior de AL,
formando uma república.
- R -
Raspa
- s. f. Assim designavam os batuqueiros a
rasteira, golpe desequilibrante muito conhecido na capoeira.
Rasteira
- (Fem.
substantivado do adj. rasteiro) s. f. Bras. 1. Movimento
ardiloso, rápido e brusco, que consiste em meter o pé ou a perna entre as de
outra pessoa, em luta, jogo ou simples brincadeira, e provocar-lhe a queda;
calço, cambapé, pernada, rabanada, transpés, travessa. 2. Fig. Ato
traiçoeiro; perfídia, golpe: "sempre de bom humor, ... sublinhando com um
sorriso, se não uma risada de satisfação ou malícia, a resolução benéfica, o
ato justo, a medida acertada, ou a rasteira, a manobra, o ardil, o golpe
político contra o adversário." (Carlos de Gusmão, Boca da Grota,
p.490) 3. Bras. Cap. Golpe desequilibrador em que o capoeirista,
apoiado numa das mãos (ou não), se agacha sobre uma perna, enquanto a outra,
esticada, descreve um semicírculo para a frente, procurando arrastar e derrubar
o adversário; pernada. Dar ou passar uma rasteira em. Bras. 1.
Levar vantagem sobre. 2. Enganar, lograr. 3. Derrubar.
Roupa
de ver Jesus - s.f.
A roupa de ir à
missa; terno branco com que os capoeiristas de antigamente iam às rodas na
Bahia, e que, no final, permanecia limpo, atestando a competência do jogador.
- S -
Sabiá - s. m. Espécie de pássaro canoro (turdus rufiventris, Lichtst.)
"Criam-se em arvores baixas em ninhos outros passaros, a que o gentio
chama sabiá poca, que são todos aleonados muito formosos, os quaes cantam muito
bem" (Gabriel Soares de Souza, 1587).
"Sarandaje" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. f. miuçalha,
pequenos capoeiras.
Saroba - s.2 gên.O mesmo que sarandaje. O capoeira que sabe apenas alguns
rudimentos, e joga feio, com movimentação desfigurada.
"Senhora da cadeira" - (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) Um dos nomes de província que os
capoeiristas das maltas gritavam em seus embates. Corresponde a Santana.
"Senhora da palma" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por
Plácido de Abreu) Um dos nomes de província que os capoeiristas das maltas
gritavam em seus embates. Corresponde a Santa Rita.
Sinhá - s. f. Corruptela de senhora. Ver verbete Sinhô.
Sinhô - s. m. Corruptela de senhor. Do latim seniore, mais velho.
Na linguagem popular, senhor como pronome de tratamento foi adulterado
em sinhô, assim como senhora em sinhá, ao lado de outra
forma simplificada, seu, derivado de sinhô, e sá, derivado
de sinhá. Os vocábulos sinhô e sinhá possuem os
diminutivos yoyô para o primeiro e yayá para o segundo.
- T -
Tá
- v.
Corruptela de está, do verbo estar. Deriva do latim stare,
estar de pé.
Tabulêro
- s. m. Corruptela de tabuleiro,
designa recipiente de madeira onde se põem comestíveis para serem vendidos.
Deriva de tábua e este de tabula, ripa, mesa de jogo, prancha.
Treição
- s. f. Corruptela de traição, do
latim traditione, entrega. A forma hoje popular treição, existiu
na língua antiga e foi usada por Camões.
Trivissia
- s. f. Corruptela de travessia, ato
ou efeito de atravessar uma região, um continente, um mar, etc. Vento de
travessia é termo náutico, designativo do vento de través, isto é,
contrário à rota que segue um navio.
Tumbeiro
- s. m. Designa
o navio negreiro, com alusão aos horrores pelos quais passavam os negros
escravizados no bojo dessas embarcações; muitos morriam - de fome, sede,
ferimentos e doenças - e eram lançados ao mar.
- U -
Urucungo
- [Do quimb. ri'kugu
= cova; existe nele um buraco.]s. m. Um dos nomes pelos quais é
conhecido o berimbau.]
- V -
Vadiação
- s. f. Ato ou efeito de vadiar; vadiagem.
Designa o jogo da capoeira.
Vorta
- s. f. Corruptela de volta. Designa
uma "vez", no jogo de capoeira; cada vez que os capoeiristas jogam
com um parceiro diferente;
"Velho
Cansado" - (gíria
antiga, transcritaem 1886 por Plácido de Abreu) Um dos nomes de província que
os capoeiristas das maltas gritavam em seus embates. Corresponde a São
Francisco.
"Velho
Carpinteiro" - (gíria
antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) Um dos nomes de província que
os capoeiristas das maltas gritavam em seus embates. Corresponde a São José.
- W -
*não encontrei nenhuma palavra com a letra H. =/
- X -
*não encontrei nenhuma palavra com a letra H. =/
- Y -
Yayá
- s. f. Diminutivo de sinhá,
corruptela de senhora. Ver o verbete sinhô.
Yoyô
- s. m. Diminutivo de sinhô,
corruptela de senhor. Ver o verbete sinhô.
- Z -
Zóio
- Assimilação do s
final do artigo plural os ao substantivo óio, corruptela de olho.
Portanto, a expressão os olhos passou, na língua popular, para o zóio.
Fonte:
Letra A
- Abadá:
Camisolão comprido e folgado, usado pelos nagôs, semelhante ao traje
nacional da Nigéria. Na capoeira, abadá significa roupa ou o uniforme
do(a) Capoeirista.
- Abalá: Corruptela
do verbo abalar. "Por-se em movimento", "Ir para
abaixo".
- Acarajé: Bolinho
da culinária, afro-baiana, feito de massa de feijão fradinho.
- Angola: Nome de
um país africano.
- Anum: Pássaro
preto muito popular no nordeste do Brasil. A imaginação popular associa ao
negro, de maneira jocosa. O termo vem do tupi anu, vulto preto, indivíduo
negro.
- Aruanda: Lugar
onde moram os Orixás e as entidades superiores, para os adeptos dos cultos
afro-brasileiros.
Letra B
- Banzo:
Tristeza, saudade, nostalgia.
- Bará: Qualidade
de Exu, deus nagô, mensageiro entre os demais deuses e o homem.
- Barra Vento: Termo
náutico: "ladode onde sopra o vento". designa também o ato de
perder o equilíbrio do corpo, como se sentisse uma ligeira tontura. Nome
em que se dá a um toque litúrgico, nos candomblés de "nação"
Angola. É, também, designativo de um golpe.
- Batizado: Cerimônia
de iniciação do capoeira; onde ele faz seu primeiro jogo oficial, jogando
com um professor.
- Beribá: Madeira
da qual é feita o berimabau.
- Besouro Mangangá: Lendário
capoeirista de Santo Amaro / BA.
Letra C
- Cabaça: Utilizado
como o resonator no berimabau.
- Calentar:
Corruptela de acalentar. Em algumas cantigas: "fazer calar uma
criança".
- Camafeu: Pedra
semi-preciosa com duas camadas de cor diferente.
- Camboatá: Um
tipo de peixe pequeno que vive em água-doce. Ou, segundo Teodoro Sampaio,
"o que anda pelo mato".
- Camará:
Corruptela de camarada. Nas cantigas de a acepção de companheiro.
- Candomblé:
Religião dos negros lorubá, na Bahia.
- Capitão-do-mato:
Indivíduo que se dedica à captura de escravos foragidos.
- Capoeira de Angola:
Capoeira que surgiu na época da escravidão. Possui rítmo lento, trabalha
com ginga e malícia dos jogadores.
- Capoeira Regional:
Capoeira mais defensiva, onde os movimentos são mais rápidos. Há
introdução de golpes de outras lutas e os jogadores estão quase sempre de
pé. Tem caráter desportivo, é praticado com método, exercícios fícos;
possui regras e pode ser praticada em campeonatos.
- Carmo: Ladeira
de bairro em Salvador na Bahia.
- Caxixi: Saquinho
de palha, provido de alga, que o tocador de berimbau segura juntamente com
a vareta que tange o instrumento.
- Chamadas de capoeiras:
Toque de berimbau, que avisa os capoeiristas que a roda está se formando.
- Cintura Desprezada:
Jogo de balões criado por Mestre Bimba.
Letra D
- Dar a volta ao mundo:
Geralmente quando o capoeira vai ao chão ou está muito cansado, o capoeira
faz um sinal e da uma "volta ao mundo" , ou seja, uma volta na
roda, sempre no sentido anti-horário.
- Dendê: Planta
da família das palmáceas, conhecida ou dendezeiro. O dendê foi trazido
para o Brasil pelos negros africanos. Para Alexandre da Silva Correa, os
negros usavam dele para untar o corpo, ficar com a pele macia e lustrosa.
Também é usada como tempero, óleo e outros...
- Dobrão: Moeda
utilizada para tocar o berimbau.
Letra E
- Esquenta Banho:
Luta de capoeira sem acompanhamento dos instrumentos, após a aula na
Academia de Mestre Bimba.
Letra F
- FormaturaCerimônia de formatura para um novo mestre de capoeira.
Letra G
- Ginga: Balanço
do corpo de um lado para outro, ritmado, que exprime cadência ao jogo;
movimento fundamental do capoeira.
- Graduado:
Estágio onde o capoeira já tem um certo domínio da capoeira e já está
preparado para dar aulas.
- Grão-mestre: O
mais alto nível que um capoeira pode chegar; domínio total da capoeira.
Letra H
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Letra I
- Iaia / Ioio:
Diminutivo de sinhá / Diminutivo sinhô.
- Iê:
Interjeição, que na capoeira significa silêncio e atenção;usado para
interromper o jogo de capoeira na roda ou para substituir os jogadores.
- Iuna: Toque de
berimbau sem canto, criado por mestre Bimba. Jogado por alunos mais
avançados, onde predomina os floreios na roda.
Letra J
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Letra L
- Lemanja: Orixá
feminino, rainha do mar.
Letra M
- Maculelê: Misto
de dança de bastões, de Santo Amaro, remanescente dos antogos cucumbis,
incorporada à capoeira e demonstrada em apresentações e cerimônias de
batismo; dança guerreira.
- Mandingueiro:
Corruptela de mandingueiro. Deriva de mandinga, feitiço, bruxaria.
- Matrinxã: Peixe
de água doce.
Letra N
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Letra O
- Orixá:
Divindade africana das religiões afro-brasileiras, especialmente
Gege-nagô.
Letra P
- Patuá: Amuleto
Protetor.
Letra Q
- Quilombo: Lugar
onde se escondiam os escravos fugidos. Sendo Palmares o mais famoso.
Letra R
- Roda: Círculo
formado por capoeiristas, onde duas pessoas, ao centro, jogam capoeira,
sendo substituidas por outras ao decorrer do jogo.
Letra S
- Senzala: Local
onde morava a escravaria, sob o comando de um Senhor.
Letra T
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Letra U
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Letra V
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Letra X
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Letra Z
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